Por Sérgio Gaspar.

Nascido em 30 de dezembro de 1972 em Migas Gerais, Selton Mello teve seu primeiro contato com a TV aos 7 anos de idade na Rede Globo com seu primeiro trabalho na novela Marron Glacê em 1979. Outras novelas se somaram ao currículo de Selton, mas foi no cinema que ele se destacou em filmes como Lavoura Arcaica, Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro, Meu nome não é Johnny, A Mulher Invisível. Jean Charles e O cheiro do Ralo. Este último teve uma participação importante na produção, o que talvez tenha amadurecido a ideia de ser diretor. Já como diretor o seu primeiro filme foi Feliz Natal e agora O Palhaço.

O Palhaço teve o roteiro de Selton Mello com Marcelo Vincatto. Neste filme Selton Mello fez um laboratório junto aos profissionais circenses o que enriqueceu a sua produção. Durante o laboratório Mello se preocupou em explorar o mundo do circo entre a arte do picadeiro e a realidade do dia-a-dia. No elenco nomes como Paulo José, Larissa Manoela, Giselle Mota, Teuda Bara, Alamo Facó, Cadu Fávero, Eron Cordeiro, Hossen Minussi, Maíra Chasseraux, Thogun, Bruna Chiaradia, Renato Macedo, Tony Tonelada, Fabiana Karla, Jorge Loredo, Jackson Antunes, Moacyr Franco, Tonico Pereira e Ferrugem dão um toque magistral.

Benjamim (Selton Mello) e Valdermar (Paulo José), filho e pai respectivamente, formam a dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue donos do Circo Esperança. Suas vidas é viajar pelo interior de Minas Gerais levando alegria para as pessoas em troca do próprio sustento, como de muitos outros artistas circenses. A trupe é composta de artistas sem eira nem beira que se deslocam de uma cidade para outra em um caminhão e dois carros velhos. A vida desses artistas é muito sofrida igual a de muitos brasileiros. Bejamim, o palhaço Pangaré, não possui comprovante de residência, CPF e nem identidade. E é nesse cenário que Benjamim vive.

Tendo apenas sua certidão de nascimento como prova de sua existência, Bejamim parte para uma aventura em busca de um sentido para sua vida. Durante o filme, o personagem vivido por Selton Mello parece não saber o que lhe atormenta: Amor? Alegria? Mostra sua existência?  Ou ter apenas uma vida tranqüila diferente de seu cotidiano? A obsessão do personagem pelo ventilador nos chama a atenção, pois nos faz a menção de que ele precisa de algo para refrescar a vida que leva. Isso faz com que o palhaço Pangaré parta do circo a procura de suas respostas.

Essa aventura leva Benjamim a reencontrar a vontade de realizar aquilo que sabe fazer de melhor, o público rir. O retorno de Bejamim ao circo fortalece a justificativa que seu pai e os outros artistas do circo possuem para insistir em um sonho de uma vida melhor fazendo o que gosta. É o que nós fazemos todos os dias. O nome do Circo  - Esperança -nos traz tanto a ideia dessa insistência com dá um toque de simbolismo à história o que lhe permite um tom poético.

O circo é uma arte muito antiga, que não se sabe ao certo onde, quando e como surgiu. Os registros nos mostram desde a civilização chinesa a 5 mil anos atrás com pinturas rupestres, passando pelos egípcios com seu malabaristas e domadores de feras, os indianos com seus festivais sagrados com contorcionismo e danças, na Grécia antiga com os sátiros que divertiam o povo até os dias de hoje com vários filmes e documentários que retratam a vida desses artistas. O filme dirigido por Selton Mello faz parte agora desse acervo.

Longe de ser um filme angustiante, diferente do primeiro filme de Selton Mello Feliz Natal, o longa-metragem se mostra sensível ao mundo retratado, misturando drama e comédia. Esse equilíbrio entre o realismo fora do palco e a fantasia dentro dele, possui uma dosagem perfeita, o que lhe conferiu quatro prêmios no Festival de Paulína. Selton Mello se mostrou um ótimo diretor.

O Palhaço é um filme muito bem escrito por Selton Mello e Marcelo Vincatto, porém seu caráter atemporal não permite ao público, no primeiro momento, localizar o tempo em que a história é narrada, isso dificulta um pouco a interpretação do filme em seu contexto histórico ao qual esta inserido, mas sem dúvidas não tira o brilho que ele possui e seu valor como obra.

Apesar de a classificação ser para menores de 10 anos, é um filme que carrega consigo um humor leve, porém questionador, e de uma profundidade no tema que permite subsídios para estudos na área circense dos mais variados graus. Esse filme deve ser recomendado para quem deseja conhecer um pouco o mundo dos artistas circenses até estudiosos da área.