ANTES DA GREVE
O acordo bianual fechado em 2009 entre a FENTECT e o Governo criou uma expectativa na categoria de ganho real nessa campanha salarial. Entretanto, durante dois meses a “Mesa de Negociação” com a empresa não passou de uma grande enrolação. A proposta que a Diretoria da ECT apresentada foi apenas uma reposição inflacionária de 6,87 % e ainda insistiu afirmando que não seria possível mais do que isso, por causa da crise econômica que acontece no mundo.  Essa argumentação é um insulto aos trabalhadores e trabalhadoras dos Correios, pois como todos sabem a ECT teve um lucro de R$ 826 milhões só em 2010. Esse tipo de proposta da empresa diante de um lucro tão grande mostra a quem serve o desenvolvimento econômico do país e retrata que o governo Dilma (PT) não é para os trabalhadores e sim dos patrões que são os que desfrutam deste desenvolvimento.
Chegando a data base, sem acordo e com vários dias de enrolação, os ecetistas mostraram para Wagner Pinheiro e Dilma Rousseff que não iriam aceitar essa proposta ridícula e deflagraram greve no dia 13 de setembro. A disposição sempre foi de lutar até o fim pela proposta aprovada no CONREP que era: aumento linear de R$ 400; reposição inflacionária; pagamento das perdas salariais de 1994 a 2010 de 24,76%, piso salarial de 1.635,00; melhores condições de trabalho; mais contratações; vale refeição de R$ 30 e cesta básica de R$ 300; contra a MP532 e 6h já para atendente. Isso mostrou que os trabalhadores da estatal sabiam que o Brasil havia crescido e por isso exigiram também uma parte do bolo.

OS DIAS DE GREVE
No dia seguinte às assembleias de base, em vários jornais do país, as notícias principais era a greve do Correios. Os primeiros dias da greve foram importantes para aumentar adesão ao movimento paredista, consolidando assim o que seria a maior greve da categoria em dias parados e todos os 35 sindicatos aderindo à greve. A diretoria da empresa se negou durante 14 dias a negociar com o comando de negociação, mas diante da pressão pública e a força do movimento, Wagner Pinheiro foi obrigado a receber as propostas do Comando de Negociação.
Em uma tentativa de acabar com a greve a empresa apresentou uma contraproposta de aumento linear de R$ 50 em janeiro/12 e reposição inflacionária. Essa proposta não contemplava as necessidades dos ecetistas e para piorar, o Governo Dilma (PT) exigiu dos sindicatos dirigidos pelo PT/PCdoB o total apoio, orientando, assim, que eles aprovassem essa proposta em suas assembleias. Mas a manobra que as direções traidoras tentaram armar para categoria não funcionou.  Em todo país as bases passaram por cima das direções que apoiavam a proposta do governo. Com isso, a resposta da categoria foi de radicalização. Em todo Brasil as passeatas tomavam as ruas e ganhava a opinião pública. Aqui em Pernambuco, foram duas passeatas que tiveram como ponto de encontro a Praça Oswaldo Cruz na Boa vista até o prédio sede dos Correios na Guararapes com distribuição de carta aberta a população. O movimento contou com o apoio de outros setores da classe trabalhadora, como o SIMEPE (médicos), o SINTUFEPE/UFRPE (servidores da UFRPE), SindGuardas- Recife.
Depois da derrota do Governo e das direções traidoras, a empresa em uma tentativa ditatorial impõe o desconto dos dias parados no contracheque, coagindo o movimento grevista. Isso não surtiu muito efeito. A força do movimento fez com que a justiça concedesse liminares a favor dos trabalhadores e contra o desconto dos dias parados. Primeiro foi na Paraíba, depois as liminares pipocaram em todo país.
A situação estava complicada para o governo: com a opinião pública ao lado da greve, com os ecetistas indignados, com o fracasso das direções traidoras governistas (PT/PCdoB) na categoria, com as liminares contra os descontos ilegais. Assim, o governo não viu outra saída a não ser caminhar para o dissídio junto ao Tribunal Superior do Trabalho (TST).
O TST, através da vice-presidente Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, mostrou de que lado está a justiça. Na audiência de conciliação, foi encaminhada uma proposta bem parecida com a da direção da ECT. O TST ofereceu um acordo de R$ 80 linear para Janeiro/12 e reposição inflacionária. Novamente as direções traidoras do PT/PCdoB se posicionam a favor do governo. A maioria do Comando de Negociação sai da audiência de conciliação com a orientação de aprovação da proposta do TST nas assembleias de base. Porém, nem todos os membros do Comando concordavam com isso e assim, não assinaram o informe 44, Jacó de Brasília e Evandro de Porto Alegre. Isso por compreenderem que essa proposta não correspondia às necessidades dos ecetistas.
Mesmo com mais essa traição da maioria da FENTECT, as bases passaram por cima das direções governistas, vaiando a leitura do Informe 44. Em são Paulo, a direção governista do sindicato não teve coragem de apresentar a proposta e botou a advogada para ler o informe. Isso não teve sucesso. Em todo país os trabalhadores disseram não a proposta do TST e mantiveram a greve.
Sem sucesso na audiência de conciliação, o TST decide julgar a greve e foi determinado o reajuste de 6,87% retroativo a 1º de agosto e aumento linear de R$ 80 a partir de 1º de outubro. Apesar do Tribunal não reconhecer a abusividade da greve, como queria a direção da ECT, os juízes autorizaram o desconto de sete dias parados, e a compensação dos outros 21 dias, que deveria ser feito aos sábados e domingos, com aviso de pelo menos 72 horas de antecedência. O TST ainda decretou que se os sindicatos insistissem na greve, eles seriam multados em 50 mil reais por dia.

COMO AGIU A FENTECT E O GOVERNO
Uma declaração vergonhosa foi a do secretário Geral da Fentect, José Rivaldo da Silva (Talibã) após a decisão do TST, tentando culpar os próprios trabalhadores pelo resultado do julgamento. “Foi uma decisão dos próprios trabalhadores deixar o caso ir a dissídio”, falou ao Portal Terra, lavando suas mãos. Esquece Talibã que o verdadeiro culpado de tudo é o governo Dilma que já ordenou a toda sua equipe a endurecer as negociações com o movimento sindical. Dilma diz que é necessário conter os aumentos salariais na reposição inflacionária devido à crise econômica que pode afetar  o país. Além de esfriar as campanhas salariais, o Governo Dilma promoveu cortes no orçamento – principalmente na saúde e na educação – em nome do ajuste fiscal para honrar o pagamento da dívida interna e externa.
O governo divide essa responsabilidade com a própria direção majoritária da Fentect que, apesar da radicalização da base, tentou impedir que a greve batesse de frente com o governo. A denúncia e a exigência para que Dilma vete a MP 532, por exemplo, medida que abre o capital dos Correios e inicia sua privatização, foi levada somente pela FNTC e a CSP-Conlutas. Já em relação aos milhares de trabalhadores dos Correios que protagonizaram uma das mais fortes greves dos últimos anos, fica o exemplo de luta e combatividade às demais categorias.

QUAIS AS VITÓRIAS?
 força do movimento conseguiu dobrar a direção da ECT e o governo, mesmo com os métodos truculentos do governo e da direção da empresa, que no início se negava em dar aumento real se propondo dar apenas a reposição inflacionária e mesmo assim, só em Janeiro de 2012. Apesar da determinação do TST ser rebaixada ela só foi possível devida as grandes mobilizações espalhada pelos quatro cantos do país, pois se dependesse exclusivamente do critério do TST seria imposta apenas a reposição inflacionária
Outra vitória dessa greve para os trabalhadores e trabalhadoras dos correios foi a derrota das direções traidoras do PT/CUT e PCdoB/CTB, que a todo o momento jogavam contra a greve. Foi precisamente no dia 04 de outubro que os 35 sindicatos disseram não a direção da ECT, ao governo Dilma, a diretoria majoritária da FENTECT e ao TST e desobedecendo à orientação da maioria do Comando de Negociação conforme o informe de nº 44, onde assinavam cinco dos sete membros do comando. Esse momento é importante por que é nele que os trabalhadores decidem como conduzir seus destinos assim como a consciência de classe adquirida durante os dias de greve, onde o ecetista percebe que só é possível mudar a vida com luta e essa luta é coletiva e agora os trabalhadores ecetistas sabem quem são seus inimigos e amigos.
  A greve acabou, mas a luta continua. A luta contra opressão, por melhores condições de trabalho, a luta contra a sobrecarga, contra a privatização dos correios e tudo isso irá continuar. O departamento jurídico do Sindicato esta acompanhando a ação que esta sendo movida contra o TST questionando a competência do julgamento, uma vez que não houve mediação de propostas e sim a imposição do TST com a proposta da empresa.