Motorista diz à polícia que carteiro atropelado e morto em SP trafegava na contramão

SÃO PAULO - O delegado Júlio Cesar de Almeida Teixeira, titular do 72º Distrito Policial (Vila Penteado), ouviu nesta quarta-feira o motorista do veículo acusado de atropelar e matar o carteiro Gedilson José da Silva, de 40 anos, no último fim de semana, na região da Vila Brasilândia, Zona Norte de São Paulo. Ele disse que a vítima estava com a moto, uma Honda CG 125, na contramão da via em que transitava com uma perua Palio Weekend, no sábado de manhã, e acrescentou que tentou prestar socorro, mas fugiu do local após supostas ameaças de motociclistas. O condutor foi ouvido nas dependências do 72º DP e liberado em seguida. A princípio, ele deve apenas ser indiciado por fuga do local do acidente. O delegado, se comprovada a responsabilidade do motorista, após investigações, também deve fazê-lo por homicídio culposo.

A identidade do motorista não foi revelada pela polícia por questões de segurança. Sobre a perna esquerda da vítima que, decepada, teria ficado presa junto ao para-choque do carro, o condutor disse que desconhece a informação.

O motorista teria se apresentado somente nesta quarta-feira à política por conta de uma crise nervosa após o acidente. Jovem de 23 anos e morador da região, ele disse que a colisão aconteceu após ele ir à casa de um amigo levar um par de chuteiras, na manhã do sábado. Consta no boletim de ocorrência somente as informações prestadas por dois policiais militares que estiveram no local dos fatos, Avenida Deputado Cantídio Sampaio, altura do número 4.555. Os PMs, entretanto, chegaram ao local após o helicóptero Águia da Polícia Militar socorrer a vítima ao Hospital do M'Boi Mirim, na Zona Sul, onde Gedilson morreu no fim da noite do domingo. A perna da vítima não foi encontrada após diligências na região.

- Será importante o comparecimento à delegacia de testemunhas dos fatos. Como também nos ajudarão os laudos das perícias no carro, na moto e no sítio dos fatos, além do laudo do IML. Só então é que podemos dizer se o investigado tem ou não culpa pelo acidente - disse o delegado.

- Ele será indiciado, a princípio, por fuga do local do acidente, conforme prevê o Código de Trânsito.

O advogado André Takashi, que representa o condutor, disse que seu cliente trafegava no sentido correto da via quando atingiu a moto de Gedilson. O defensor negou que o motorista tivesse ingerido bebida alcoólica.

- Ele nunca havia se envolvido em acidente. Depois que ficou sabendo que havia sido amputada a perna da pessoa é que realmente entrou num choque muito grande. Ele não teve culpa, e lamenta muito - salientou Takashi, que acrescentou que seu cliente soube da notícia da perna amputada através da imprensa.

Viúva acredita em impunidade

Inconformada, a viúva, Edelvânia dos Santos, 35 anos, diz que não tem esperança de que o culpado seja punido.

- Eu não acredito nisso. A morte dele não vai mudar nada. Se mudar, que bom. Esta pessoa não vai ouvir o perdão da minha boca - falou, abalada, a víúva.

O marido saiu de casa para trabalhar por volta das 7h30m. Ele estava na Avenida Deputado Cantídio Sampaio quando sua moto foi atingida por um carro, que teria entrado na contramão, segundo testemunhas. O carro do condutor e a moto foram apreendidas e já periciadas.

- Ele não morreu. Mataram ele. Sua vida era trabalho e família. Estávamos terminando de construir nossa casa. Era o sonho dele. Destruíram tudo. Eu nunca vou me acostumar com a morte dele. Nunca! - fala a viúva.

O casal, juntos havia 16 anos, teve dois filhos. O menino tem 7 anos e a filha, 2. Edelvânia conta que quando o relógio marca 17h40m, horário em que o marido chegava do trabalho, o filho pergunta se ele não vai voltar.

- É muito difícil você ter que falar para uma criança que o pai dela nunca mais vai voltar - conta a mulher. Ela diz que gostaria que a perna do marido e a jaqueta dos Correios, que ele vestia, fossem localizadas.

Gedilson foi enterrado no Cemitério de Perus, na zona norte.

Alagoano, ele trabalhava como carteiro havia 16 anos. O irmão Charlys José da Silva diz que a família quer justiça. Os parentes têm os dados da placa do veículo, uma Palio Weekend.

— Queremos este monstro na cadeia. Isso não é ser humano, é um animal. Não teve compaixão pelo meu irmão, não socorreu. E saiu arrastando a perna dele — disse o irmão.

Vizinhos contam que a sua vida era trabalhar e ficar com a família.

— Era uma pessoa querida e conhecida no bairro — fala o comerciante Jose Ferreira, vizinho.

Ciclista perdeu um braço

No mês passado, um ciclista perdeu um braço após ser atropelado por um carro na Avenida Paulista, região central de São Paulo, durante a madrugada.

Um dos braços de David Santos de Souza foi amputado durante a colisão. O motorista, Alex Siwek, do carro que atingiu o ciclista não prestou socorro e deixou o local da batida. Depois, ele arremessou o braço da vítima em um córrego. Dias depois ele foi preso.

David Santos atualmente se recupera para poder colocar uma prótese, que receberá por meio de doação.

FONTE- O GLOBO